— Demetria Lovato?
A moça de cumpridos cabelos negros levantou a cabeça e
arqueou as sobrancelhas ao direcionar o olhar para quem a chamava, respirou
fundo e levantou do grande sofá que dividia com mais três desconhecidos.
Guardou o celular na bolsa e entrou no consultório que a esperava. Ela reparou
de maneira rápida e detalhista a decoração da sala, não é de menos, ela
trabalhava com isso. A mulher que a chamou esticou o braço para outro sofá, e
Demetria assim sentou quieta – a faltava coragem.
— Devo me apresentar, meu nome é Christina Maria. Pelo
telefone você me disse que Selena Gomez me recomendou a você?
— Sim, ela é minha amiga e.... ela contou que você é
discreta.
— É claro, faz parte da minha profissão toda discrição aos
meus pacientes. – Responde calma. – No que posso ajuda-la?
Existia poucos momentos na vida de Demetria que a deixava
com poucas palavras – esse momento, toda essa situação era uma grande exceção.
Ela encarou o céu pela janela distante de onde sentavam. Procurava palavras,
maneiras.... É, procurava coragem. Até então, apenas pensava – aliás, pensava o
tempo inteiro – sobre tal assunto que a incomodava, o motivo que a fez buscar
ajuda psiquiatra.
— Tudo bem.... – Christina disse observando a dificuldade
da moça. – Porque não começamos com uma apresentação? Falar sobre sua vida,
tanto pessoal como profissional.
Profissional! Essa era fácil de Demetria contar. Como tudo
em sua vida desde seus seis anos, Demetria tinha a incrível e invejável
capacidade de ser independente e persuasiva, até aquele momento poucas coisas
não saíram como ela imaginava ou queira. Tudo foi cronometrado em seus mínimos
detalhes.
— Meu nome é Demetria, como bem sabe. Sou corretora e
design de imóveis, tenho 29 anos e tenho um escritório, bons clientes. Tudo como
sempre quis: amor e satisfação pelo que faço.
— Ótimo, além da sua vida profissional. O que mais deseja
acrescentar?
— Sou casada há dois anos, meu marido, Wilmer, é advogado.
Construímos uma boa vida juntos, nos conhecemos na faculdade em um congresso há
sete anos. Começamos a morar juntos cerca de dois anos depois em um pequeno
apartamento perto de onde estudávamos e nosso relacionamento foi caminhando
nesses passos. Tenho minha família... na realidade, apenas a família da minha
mãe e duas irmãs. Amigos próximos também.... – Demi suspirou. – Não tenho o que
reclamar da minha vida, sinceramente.
— Nenhuma frustação? Magoa?
— O que me trouxe aqui... – Demi empacou novamente. – E....
complicado de dizer em voz alta, ainda não tive a coragem de dizer isso em voz
alta. Estou perdida com o que me vem acontecendo. – A voz tremula assustou a si
mesma, nunca gaguejou de tal maneira.
— Certo, certo, não tenha pressa. – Christina ofereceu um
copo d’agua. – Conte como foi essa última semana até aqui, como foi o processo
que te trouxe.
— Minha melhor amiga Miley irá casar esse final de semana e
eu serei sua madrinha. – Sorriu ao lembrar desse evento. – Na segunda-feira
seria a última provação de roupa, estava tudo certo até que eu.... Não entrei
no meu vestido. Chega a ser bizarro porque eu entrei nele perfeitamente nos
últimos três meses, mas tudo bem. Irei usar um maior, mas no mesmo dia eu
comecei a sentir tontura, enjoo e mal-estar que me impediu de trabalhar nos
dois dias seguintes. Fui ao médico e descobri que estou gravida. – A palavra finalmente saiu. – Gravida! Por isso estou
aqui, porque estou gravida. – Repetia em voz alta com certa satisfação e
receio.
— E como você está em relação a sua gravidez? Ela é
indesejada ou vocês estavam se preparando, é o momento que não é ideal pelo
casamento.... Qual é a frustação disso?
— Sempre sonhei em ser mãe, passar por esse processo, mas
acabamos desistindo. – Disse alisando a barriga. – Ela seria amada tanto por
mim quanto pelo Wilmer, chegamos a tentar diversas vezes até que descobrimos
que Wilmer é infértil.
— Seu marido é infértil?
— Sim! – Os olhos encheram—se de lagrimas. – Ele ainda é e
eu estou grávida. E isso deveria ser impossível de acontecer!
— Como isso veio acontecer?
— É porque que estou aqui. – Demi encarou Christina. – Não
sei como isso aconteceu!
— Demetria, desculpe, onde quer chegar?
— Meu marido é incapaz de ter filhos e eu estou grávida.
Como isso é possível?
O escritório ficou em silêncio, ambas pensativas. As mãos
de Demetria tremiam, ao falar as palavras certas o seu pesadelo tinha tornado,
de fato, em realidade.
— Existe uma possibilidade de você...
— Ter traído Wilmer? Claro que não! – Demetria afirma como
ofensa. – Não...
— Por hora, você deve pensar em qual será o futuro dessa
gravidez. Quais as opções você está cogitando e podemos conversar melhor.
Respirou fundo algumas vezes e se levantou do sofá.
— Escute, isso não está ajudando. Para ser sincera.... Você
não está me ajudando. – Diz ao pegar sua bolsa. – Preciso ir embora, uma
loucura ter vindo aqui!
Demetria abre a porta do consultório e sai sem olhar para
atrás ou se despedir. Ao sair do estabelecimento e entrar no seu carro, abre
sua bolsa e cogita ligar para Wilmer, mas logo desiste. Era calculista e
organizada o suficiente para saber quando era uma hora boa ou não, ele poderia
perceber qualquer sinal de desespero ou mentira na sua voz e para ele, Demi não
estava preparada. Deu partida no carro até em casa. Wilmer demoraria para
chegar e Demetria tinha decidido que a psicóloga a ajudaria, mas a primeira
parte falhou e ela tinha prometido a si mesma que contaria ao marido antes dos
dois meses.
Passou o dia andando de um lado para o outro em casa,
organizando a cozinha e a sala, arrumou o closet e cuidou do jardim. Todo
aquele nervosismo a consumia de uma maneira que era incapaz de lidar. A porta
se abriu e Demetria tomou o último gole de vinho.
— Já está em casa? – Wilmer diz beijando a testa da amada.
– Como foi seu dia?
— Um pouco tedioso. – Responde sem jeito. – Wilmer, estive
te esperando para conversar com você sobre uma coisa. Ainda não sei como dizer,
mas eu espero que você consiga entender.
A expressão facial de Wilmer mudou, ele tirou o seu terno e
serviu outra taça de vinho sentando—se ao lado da esposa. Demetria reparou que
os olhos de Wilmer continuava a brilhar, meio sorriso no rosto.... Ela não
conseguia formar uma frase.
— O que? – Wilmer despertou a esposa.
— Nada, nada.... – Demetria disse sorrindo. – Bobagem
minha.
Wilmer aceitou e pegou no queixo da amada e a beijou
lentamente alisando seus cabelos cumpridos. O telefone de Demetria começou a
tocar de forma gradativa e ela segurou sem desgrudar seus lábios de Wilmer.
- Atenda. – Disse o homem dando um último selinho.
- É Selena... – Demi suspira. – Tenho aquela noite de jogos
com eles, mas não preciso ir...
- Vá, se quiser. – Wilmer riu. – Não se preocupe, tenho
coisas para fazer.
- Se eu ficar... vou atrapalhar?
- Oras, Demi. – Ele abraçou-a por trás. – Nunca me
atrapalhou. Aconteceu algo?
- Não é nada que não seja capaz de resolver sozinha. – Ela
passou a mão na barriga disfarçadamente, sentia certa diferença.
Observou-o puxar a garrafa de vinho em outro copo e
bebericou, enquanto olhava Demetria. Wilmer não insistiu e serviu vinho para a
esposa que tomou rapidamente, aquela ansiedade era visível.
- Eu vou. – Demi riu. – Acho que estou nervosa com uma
venda. É isso.
- Você é muito boa. Vende casas como água.
- É, pois é, mas estamos em crise, então, tenho que ter
cuidado.
Levantou da cadeira e vestiu seus sapatos deixados perto do
sofá, sua bolsa estava em cima do móvel e guardou o celular na bolsa.
- Irei de taxi...
- Caso beba. – Wilmer completou rindo.
- Exatamente. – Sorriu e se despediu.
y09yu0u
ResponderExcluirgiughuhij
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